Por
Fernando Medeiro (*)
É comum encontrarmos em nosso dia a dia, pessoas tecendo
fervorosas críticas ao uso da motocicleta, e estas são as mais diversas,
começando pelo comportamento de alguns motociclistas, passando pelos custos hospitalares
e chegando até as questões de segurança pública.
Algumas esferas do Governo Federal têm se
referido a estes acidentes como uma epidemia em nosso país. Mas, o que pouca
gente sabe é que, apesar de muito ainda precisar ser feito, inúmeras ações em
busca da harmonia no trânsito e pilotagem com segurança são realizadas em ao
longo de todo território nacional. É verdade, também, que muito ainda precisa
ser feito, pois, a grande maioria dos acidentes pode ser evitado se forem
adotadas medidas muito simples pelos próprios usuários das motocicletas e se o
sistemas de fiscalização de trânsito e segurança pública fossem mais efetivos.
Para que sejam tomadas
as medidas realmente capazes de produzir resultados, é necessário conhecer o
problema. Por isto, proponho neste artigo uma reflexão sobre os maiores
inimigos da moto, em termos de pilotagem segura. O grande inimigo do
motociclista é a imprudência dos próprios usuários e motoristas que, segundo a
última pesquisa realizada pela Dra. Júlia Greve, em conjunto à USP e ABRACICLO,
são responsáveis por 88% dos acidentes.
Mas, imprudência é um
termo relativamente genérico, portanto, vamos refletir sobre o que expõe o
motociclista a maior fragilidade e, consequentemente, ao maior risco de
acidentes.
Auto confiança
excessiva que resulta no “abuso” - É até natural que o ser humano passe a fazer de maneira
"automática" tarefas que realiza com muita frequência, e isto
acontece também no ato de pilotar motos. Mas, independentemente da experiência
e frequência com que se pilota, é fundamental manter a concentração e o senso
de limites apurados quando estamos acelerando.
É frequente
observarmos jovens se expondo a riscos tão elevados quanto desnecessários.
Falta de visão do
poder público - Infelizmente, em
algumas regiões do País, o poder público parece ignorar a existência de
motocicletas. Mesmo nas maiores cidades brasileiras, onde a moto poderia
perfeitamente ser considerada uma das alternativas aos problemas de mobilidade
urbana, pouco se faz visando a segurança do motociclista. Um simples exemplo
disto é o número baixíssimo de faixas exclusivas, a restrição em
estacionamentos, que muitas vezes são da própria prefeitura, como acontece no
Hospital das Clínicas, em São Paulo.
Capacitação Quem já realizou o CFC (Curso de Formação de Condutores)
sabe. As regras e métodos utilizados atualmente são insuficientes para preparar
o condutor para pilotar qualquer tipo de motocicleta. São ignorados fatores
como velocidade, estradas, tipo de motocicleta, condução de garupa, entre
outros. O resultado é que o cidadão é habilitado a pilotar qualquer moto em
qualquer lugar e, quando isto acontece de fato, o risco é enorme.
Uso de equipamentos de
segurança - Infelizmente itens
tão básicos como capacete, luvas, calçador e roupas minimamente seguras para o
uso de motocicletas são ignorados pelos usuários.
Manutenção das motos - Apesar do custo de manutenção da grande maioria das
motos ser relativamente baixo, muitos motociclistas arriscam suas vidas,
utilizando peças e equipamentos sem a mínima condição de segurança.
Distração com músicas
ou celular - Há pouco tempo atrás
não era comum encontrar motociclistas utilizando fones de ouvidos ou mesmo
falando ao celular durante a pilotagem. Estas atitudes são extremamente
perigosas, pois além de tirar a atenção do piloto, também o impede de ouvir o
que está acontecendo a sua volta, como o som de uma buzina ou mesmo a
aproximação de outro veículo.
Uso de drogas e álcool - A pesquisa realizada pela Dra. Julia Greve constatou que
21,7% dos condutores acidentados haviam feito uso de drogas e álcool.
Pilotagem sem
habilitação - Se o atual método de
habilitação ainda está longe de ser o ideal, que dirá do risco de se pilotar
sem habilitação. A mesma pesquisa revela que a ausência de habilitação está
diretamente ligada à gravidade das lesões. Entre 300 vítimas de acidentes com
entrada em hospital temos: 57 sem habilitação (entre estes, 67% sofreram lesões
graves). 243 habilitados (entre estas, 43% sofreram lesões graves).
Imprudência do
motorista - De acordo com
pesquisas, 49% dos acidentes de motos ocorrem por culpa de motoristas de outros
veículos, entre estes, 88% são por imprudência. É preciso ter harmonia no
trânsito, pois este é responsabilidade de todos.
Formação de cidadãos
preparados para o trânsito - O transito é uma
realidade na nossa sociedade. De norte a sul do País, o tráfego de veículos é
cada vez mais intenso, sendo assim, mais complexo e perigoso. Por que ainda não
faz parte no plano de ensino das escolas primárias e secundárias, uma matéria
que forme as crianças e jovens para esta realidade? Nossos jovens fazem 18 anos,
correm para tirar sua habilitação e tentar provar que já são adultos. Ás vezes,
nem chegam a ser! Até quando o poder público vai ignorar esta realidade?
Se juntos refletirmos
e cada um agir dentro daquilo que está ao seu alcance, poderemos fazer a diferença
para um trânsito mais humanizado e menos violento.
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